sexta-feira, fevereiro 07, 2014

I hate to talk on the phone.

Eu ainda lembro quando cheguei em Vancouver para o intercâmbio. Pensando que sabia me virar, e que sabia pelo menos um pouco de inglês. 

Não, eu não sabia nada! Saber que 'azul' é 'blue', que 'hi' significa 'oi' não ajuda nem um pouquinho quando tenta-se estabelecer uma conversa.


E mesmo que qualquer tentativa de falar inglês me deixasse com muito medo, nada comparava-se com pavor, o pânico de escutar o telefone. 


Eu estudava meio periodo, e parte do dia eu passava na casa da minha 'host family', estudando, assistindo tv pra tentar inculcar o inglês um pouco. E aí um dia o telefone tocou. Eu fiquei naquela "atendo ou não atendo?". "Não, não atende". "Mas e se for minha host mãe precisando de algo?". "Ah, vai, tenta".


E foi a primeira e última vez num período de uns 2 meses. Eu não entendi uma palavra. E a pessoa do outro lado da linha também não colaborava e insistia em não perceber todos os gestos e expressões que eu estava fazendo no meu lado da linha. E a ficha caiu. Não adianta, não tem como. Nunca vou conseguir. Isso tudo é um fracasso. E por mais que eu ficasse até de madrugada memorizando verbos e substantivos, e por mais que conversas cara-a-cara melhorassem a cada dia, eu sempre passava longe to telefone. Tinha pavor!


Eu estava lembrando sobre isso hoje, porque estava pensando sobre o meu trabalho. Quando lembro daquela época, da angústia de tentar entender e ser entendida naquela conversa pelo telefone, eu suspiro. Ao mesmo tempo que ainda posso quase palpar aquela aflição, também respiro com ar de alívio porque quase não passo por isso. 50% do meu trabalho e comunicação é feito pelo telefone. Por americanos nativos que falam rápido e não têm tempo pra ficar explicando nada. E eu dou conta do trabalho. E o sentimento de realização é indisticrível, mesmo depois de tantos anos. Hoje em dia, para a minha alegria, eu não odeio falar no telefone. Virou parte do dia a dia.


Mas pra variar, nem tudo tem seu lado bom. O outro lado da moeda é que infelizmente eu estou começando a esquecer muitas palavras em português que eu jamais esqueceria antes. Só pra escrever esse texto, tive que procurar a tradução de 'accomplishment' pra encontrar 'realização'. Não conseguia pensar outra palavra para 'angústia', e novamente tive que ir no Google para poder encontrar 'aflição'. Tive que ir no Google umas 6 vezes. De doer.


São coisinhas assim que me irritam profundamente. Será que eu dia vou esquecer tudo? Não, sei que é bobagem e não vou. Mas a troca das línguas é mesmo interessante. Esse nosso cérebro é mesmo impressionante.